Como é que os Mamíferos selvagens continuam a caçar e a reproduzir-se em áreas ocupadas por casas, estradas, gado e culturas?
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Cada vez mais cientistas sugerem que a única saída para a maioria das espécies é mudar drasticamente as suas atividades, as consequências da adaptação forçada no ambiente ainda são incertas.
Um artigo publicado no início de fevereiro na revista científica Global Ecology and Conservation descobriu que muitos animais estão finalmente se tornando noturnos para evitar a presença humana.
O estudo, que reuniu pesquisadores da Universidade de Manchester, no Reino Unido, e do Laboratório de Ecologia e Conservação (LAEC) da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, faz parte de um projeto mais amplo lançado em 2013 e 2014.
No caso de armadilhas, câmeras fotográficas foram instaladas em diversos pontos do nordeste do estado de São Paulo.
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Afinal a região era originalmente coberta pelo bioma Cerrado e vem sendo transformada há mais de duzentos anos por diferentes tipos de agricultura – do café à pecuária nos séculos XVIII e XIX e, mais recentemente, ao açúcar.
Florestas plantadas
“Esses animais interagem com os humanos há muito tempo”, disse Laik, coautor do estudo.
As armadilhas fotográficas, caixinhas que tiram fotos toda vez que alguém passa em frente ao equipamento, foram instaladas em áreas de diversos graus de conservação, incluindo propriedades privadas e áreas protegidas, como a Estação Ecológica Jataí.
Sendo assim uma paisagem com um grande quarteirão de área protegida, outra com um mar de silvicultura e onde só há uma lasca de floresta.
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Uma terceira paisagem com uma mistura das outras duas, onde se têm silvicultura, cana-de-açúcar e áreas protegidas.” , descreve Chiarello.
As imagens tiradas anos atrás resultaram em uma série de artigos científicos identificando as áreas ocupadas pelos animais e as características que as tornavam mais ou menos atrativas para a vida selvagem.
No último estudo, porém, o objetivo foi entender como a presença humana afeta a rotina dos animais.
“Porque o animal às vezes pode continuar a ocorrer no espaço onde há uma perturbação antrópica [humana], como uma estrada de terra ou uma plantação de cana-de-açúcar.
Mas não faz isso no momento em que estaria mais exposto a possíveis ataques humanos. contato”, explica a pesquisadora.
O objetivo foi comparar os tempos de atividade de animais da mesma espécie, mas que vivem em locais com diferentes graus de preservação e mais ou menos distantes da presença de pessoas, cães e casas.
Das seis espécies de mamíferos analisadas – onça-pintada (Puma concolor), jaguatirica (Leopardus pardalis), tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla).
Barriga vermelha (Subulo gouazoubira), cutia (Dasyprocta azarae) e cachorro-do-mato (Cerdocyon Thousands) – cinco apresentaram comportamento alterações em áreas desprotegidas e/ou próximas à ocupação humana.
Para quatro destas espécies, a resposta nas áreas mais expostas à pressão humana foi tornar-se significativamente mais nocturna
Reação em cadeia
As conclusões do estudo reforçam as observadas por outros pesquisadores, como o grupo coordenado por Maria João Ramos Pereira, professora do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Portuguesa radicada no Brasil, ela e seus colegas estudaram como a presença humana afeta o comportamento dos mamíferos no que resta da Mata Atlântica no Rio Grande do Sul e, mais recentemente, também no bioma Pampa.
“Infelizmente, encontramos essas mudanças [no comportamento], que muitas vezes são específicas de cada espécie.
A fauna não responde da mesma forma”, diz Pereira.
Algumas espécies podem até se beneficiar da presença humana.
É o caso do mabeco, que, segundo o artigo Ecologia Global e Conservação.
Encontrado com mais frequência em áreas ocupadas pelo homem do que em áreas protegidas.
Um dos motivos, acreditam os cientistas, é o fato de ele comer praticamente de tudo e encontrar nesses locais uma variedade maior de alimentos.
Em outras espécies, o que acontece é um ajuste fino de comportamento.
Pereira e seus colegas estudaram como um grupo de grachains (Lycalopex gymnocercus), uma espécie de raposa do campo, evitava o assédio de cães.
Descobriram que os animais continuavam a ocupar os mesmos quartos, mas não todos ao mesmo tempo.
“É como se nós dois dividíssemos o mesmo apartamento e estivéssemos ativos durante o dia, exceto que eu estou ativo hoje e você estará ativo amanhã”, ela compara.
Conclusão
Na maioria dos casos, a destruição da vegetação nativa e a proximidade da presença humana acabam por limitar a área e os tempos de movimentação dos animais, com consequências ainda incertas.
“É como reduzir o orçamento familiar; ela sobreviverá com maior dificuldade.
O animal deve encontrar um caminho.
Por exemplo, não posso mais sair o dia todo, só à noite.
Afinal a vida fica mais difícil e nessas situações estressantes ele vai se reproduzir menos e viver menos”, explica Chiarello.
“Existem mecanismos que vão permitir uma certa resiliência.
Mas a partir de um certo nível as espécies morrem, e é isso que já está a acontecer”, lamenta Pereira.
Fonte de informação: brasil.mongabay.com