Fuga dos colonizadores da pressão política na Amazônia - Mundo de Notícias

Fuga dos colonizadores da pressão política na Amazônia

Do início do século XIX ao século XX, provavelmente fugindo dos colonizadores  espanhola na Amazônia peruana que obrigava a população indígena a realizar trabalhos forçados, quatro famílias da etnia Kokama se encontraram no Alto Solimões, no Brasil, longe de seus algozes.

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Numa planície de inundação, às margens de um grande rio, o grupo encontrou as condições naturais que lhes permitiram manter vivas as suas tradições e cultura.

Durante quase 100 anos, os Kokama ocuparam pacificamente as terras ao redor da aldeia de Acapuri de Cima, na Amazônia, sem se preocuparem com a fronteira de seu território.

Até que o homem branco chegou.

“Certa vez veio um certo Zé Ferreira e prometeu nos ajudar em troca de votos nas eleições.

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Mas os indígenas não votaram e ele ameaçou nos expulsar”, lembra o ex-cacique do Aty Manã Eduardo Januário, 80 anos.

Perder terras dos colonizadores 

Ameaçados de perder suas terras, os Kokama não sabiam o que fazer.

Foi então que iniciaram uma verdadeira saga, durante mais de três décadas, em busca de demarcação e direitos sobre seu território ancestral.

“Os nossos pais não vieram para cá num barco vindos da Europa, vieram por este rio à procura de lugares melhores para viver. Somos filhos desta floresta.

Foi aí que resolvi ir conhecer os nossos direitos, que a terra era a nossa casa, tudo o que tínhamos”, disse Januário junto com seu fiel companheiro nesta jornada, Umari, Benjamin Santiago, hoje com 70 anos, e como no época em que foi vice-cacique.

Afinal a reportagem do InfoAmazonia chegou aos povos indígenas de Acapuri de Cima, próximo à tríplice fronteira Brasil-Peru-Colômbia, no dia 6 de setembro deste ano.

Um dia antes, o presidente Lula (PT) havia aprovado a delimitação definitiva do território e reconhecido a ocupação tradicional da população indígena da etnia Kokama.

Chegar lá requer uma longa viagem de 24 horas de lancha.

De barco convencional saindo de Manaus, são necessários mais de cinco dias para navegar pelo Rio Solimões.

Mas no final dos anos 80, quando Januário e Santiago descobriram que essa também era a forma de buscar o reconhecimento dos direitos indígenas, uma viagem à capital poderia levar meses.

Identificação e delimitação de território do colonizadores

Januário e Santiago estiveram na Funai em Manaus em 1991 e 1995.

Na segunda visita ao órgão, parte da população indígena já foi invadida, principalmente para retirar madeira, dizem os indígenas.

O regulamento de identificação e delimitação do território foi publicado pela primeira vez em 1997.

Afinal a confirmação da delimitação da área, com base em informações de Januário e pesquisas técnicas, só aconteceu em 1999.

“Cada vez que íamos para Manaus nossas expectativas aumentavam, mas sempre havia um novo caminho a percorrer. Mas continuamos sólidos e unidos na luta, afirma Santiago.

O que veio e passou tornou-se uma história para contar e um exemplo para toda a sociedade.

Januário lembra que se não fosse a pressão e o risco real de serem deportados, talvez os Kokama ainda vivessem hoje como sempre viveram naquela região.

“Não sabíamos nada, sabíamos apenas que éramos índios e que já estávamos naquele país há muito tempo.

Descobrimos que eles tinham leis para proteger nossos direitos, descobrimos as trilhas por conta própria.

luta”, lembra Januário.

Afinal a dupla se alternou nas funções de chefe e subchefe de 1980 a 2017, quando ambos tiraram folga para cuidar da própria saúde ou da saúde de familiares.

Afinal a aprovação da Terra Indígena em setembro deste ano surpreendeu os dois. Januário foi informado por telefone do genro, que estava em Manaus, viu a notícia na TV e imediatamente tentou avisar Santiago.

Agenda ambiental no centro da cultura Kokama

No início da década de 90, quando o mundo acordou para a questão climática, Benjamin Santiago já sabia há muito tempo que os povos indígenas só conseguirão sobreviver neste mundo se também preservarem suas florestas.

No Alto Solimões, mais ou menos na mesma época, o desenvolvimento dizia que a população da cidade aumentava – mas não necessariamente em termos de indicadores sociais.

Jutaí, por exemplo, município mais próximo da TI Acapuri de Cima, possui uma das maiores desigualdades sociais do Brasil e um Índice de Desenvolvimento Humano Médio (IDHM) entre os mais baixos do país.

O único acesso à cidade é por barco e a maior parte do abastecimento vem de Manaus.

Nessa época, não era só Zé Ferreira quem estava de olho na população indígena: “Até 1990 praticamente não havia contato com os não indígenas.

Mas depois a pressão veio de todos os lados”, diz Santiago.

Na época, ele buscou capacitação para realizar a conservação ambiental da terra indígena e foi um dos primeiros da região a implantar um sistema de manejo de pescado nos lagos da comunidade, ajudando a transformar a pesca, já uma habilidade indígena em Kokama, em uma atividade meio de geração de renda.

Conclusão

“Sabíamos que vinham forasteiros para tirar as riquezas da nossa terra e para nós só faz sentido viver da terra se conseguirmos preservá-la”, disse, lembrando o sucesso da primeira colheita do empreendimento.

Naquela época, conseguiram melhorar a safra para vender o excedente na cidade.

Até hoje, o manejo do tambaqui e do pirarucu é uma das principais atividades da comunidade, ao lado da agricultura.

Em momentos bons para a pesca, como a visita do InfoAmazonia à aldeia em setembro, os homens vão para o mar e ficam lá por dias, enquanto as mulheres cuidam dos campos.


Fonte de informação: brasil.mongabay.com

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