Em um mundo hiperativo e de Tédio, onde tudo corre depressa e a produtividade virou quase uma obrigação moral, o tédio parece um inimigo, Quase ninguém admite estar entediado.
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Quando isso acontece, a resposta mais comum é abrir uma rede social, assistir a algo ou buscar uma nova tarefa.
Assim, preenchemos cada espaço com estímulo.
Entretanto, essa pressa para evitar o vazio tem um custo.
Apesar da má fama, o tédio pode ser essencial.
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Ele sinaliza um espaço interno que pede silêncio.
Mostra que, por trás da rotina frenética, existe um corpo que precisa respirar, uma mente que precisa vagar e uma alma que deseja ouvir algo que o barulho não permite. Mas, como escutar esse chamado se estamos sempre ocupados?
Primeiramente, é importante entender que o tédio não é sinal de fracasso.
Embora muitos associem a falta do que fazer com preguiça ou falta de ambição, o tédio pode ser um sinal de que estamos desconectados do excesso, mesmo que temporariamente.
E é justamente aí que ele ganha seu valor.
Por que fugimos tanto do tédio?
Antes de mais nada, vale refletir sobre o motivo pelo qual evitamos tanto o tédio.
Talvez porque ele nos coloque frente a frente com nós mesmos.
Sem distrações, sem tarefas, sem agendas, somos obrigados a perceber o que realmente sentimos.
E, convenhamos, nem sempre isso é confortável.
Além disso, fomos ensinados desde cedo que o tempo precisa ser “aproveitado”.
Se estamos parados, parece que estamos desperdiçando alguma coisa.
Por consequência, tentamos preencher todos os minutos com alguma atividade útil, mesmo que ela não nos traga nenhum prazer real.
Por outro lado, há algo que esquecemos com frequência: estar ocupado nem sempre significa estar presente.
Muitos vivem no modo automático, pulando de uma tarefa para outra, sem se perguntar por quê.
O tédio, então, surge como um grito interno. Ele diz: “pare um pouco, olhe para dentro, respire”.
No entanto, quase sempre, ignoramos esse grito e corremos para a próxima distração.
O valor escondido na pausa
Entretanto, quando nos permitimos viver o tédio, algo muda. No começo, pode ser estranho.
Afinal, estamos desacostumados a não ter o que fazer.
Porém, depois de algum tempo, começamos a notar coisas que estavam invisíveis.
Talvez um pensamento que andava esquecido.
Ou uma vontade que vinha sendo ignorada.
Ou, quem sabe, uma ideia nova que só surgiu porque finalmente houve espaço para ela.
Muitos momentos de criatividade surgem justamente no intervalo entre uma coisa e outra.
Ao contrário do que se pensa, a mente precisa de espaços vazios para criar.
Quando está sobrecarregada, ela apenas repete padrões. Mas, quando há pausa, há espaço para o novo.
Portanto, o tédio pode ser um portal criativo — desde que tenhamos coragem de atravessá-lo.
Além disso, é nesse estado aparentemente inútil que muitas emoções ganham voz.
Tristeza, cansaço, saudade, frustração — tudo aquilo que é abafado pela correria pode emergir.
E, mesmo que doa, isso é importante. Porque sentir é o que nos humaniza. E, se não sentimos, não vivemos por inteiro.
Infância, tédio e imaginação
Na infância, o tédio era comum. Não tínhamos controle sobre o tempo, nem muitos recursos.
Quando os adultos estavam ocupados, nos restava esperar.
E, por isso mesmo, era nessas horas que a imaginação mais florescia.
Construíamos mundos com almofadas, transformávamos galhos em espadas e criávamos histórias do nada.
Com o tempo, porém, fomos perdendo essa liberdade criativa.
À medida que crescemos, o tédio passou a ser visto como falha.
Hoje, ele é combatido com aplicativos, compromissos e produtividade.
Entretanto, ao fazer isso, também perdemos a capacidade de imaginar o inesperado. Tudo se tornou muito prático, muito rápido, muito eficiente.
Contudo, imaginar continua sendo essencial.
E, para imaginar, é preciso espaço.
O cérebro não cria bem quando está pressionado.
Ele precisa descansar, se perder, vagar. E o tédio é uma oportunidade rara para isso.
Mesmo na vida adulta, permitir-se não fazer nada pode abrir janelas que estavam fechadas há muito tempo.
Fonte de informação: Autoria Própria